Representando a Aruanda ou a Poética dos artistas de terreiro
Na sexta-feira, 8 de novembro, teve início a sétima edição da mostra “Nós de Aruanda” no Centro Cultural da Justiça Eleitoral do Pará, em Belém do Pará. A exposição reúne 21 artistas de Belém, da região metropolitana, e de outras cidades dentro e fora do Estado do Pará. Eles apresentam trabalhos de intervenção no espaço público, desenhos, pinturas, gravuras, fotografias, esculturas, objetos, indumentária, instalações, performances, vídeos, música, dança, shows e culinária que representam suas vivências como povos tradicionais de matriz africana.
Os artistas visuais Jean Ribeiro e Glauce Santos assinam a curadoria dessa edição, e desde de 2015 estão a frente da Mostra Nós de Aruanda. Aruanda é um paraíso espiritual onde moram diversas entidades, segundo algumas religiões afro-brasileiras. Para Jean Ribeiro a exposição coletiva “articula poéticas de resistência afro-amazônicas, reunindo vários artistas dos terreiros de Umbanda, Tambor de Mina e Candomblé, todos unidos através de uma estética com bases em nossas tradições de matriz africana, apresentando vivências nas quais percebemos à relevância da continuidade do projeto Nós de Aruanda.”
A Mostra Nós de Aruanda é uma iniciativa do professor da Faculdade de Artes Visuais da UFPA, ogan e artista Arthur Leandro-Tata Kinamboji. A partir de um convite para um grupo de pessoas de terreiro, após uma manifestação de rua, para conhecer uma exposição que estava acontecendo em um museu, amigos e irmãos de santo responderam que não entrariam porque não se sentiam representados nesse espaço. Então Arthur Leandro, que faleceu em 2018, iniciou a articulação de um evento de Arte onde as pessoas do santo se sentissem representadas. A ideia amadureceu nas reuniões do Grupo de Estudos Afro-amazônico - GEAM, e também nas aulas da disciplina de Poéticas Afro-Brasileiras, ministrada pelo próprio Mestre Arthur Leandro, que aconteciam na Especialização em Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Escola-UNIAFRO, realizado na Universidade Federal do Pará. Finalmente, em 2013, aconteceu a 1ª versão da exposição na galeria Theodoro Braga - Fundação Cultural do Estado do Pará.
A principal intenção é apresentar artistas de comunidades tradicionais de matriz africana, incentivar experimentações e estudos com a intenção de que o público visitante possa entender estas práticas para além do olhar do senso comum. Para o curador Jean Ribeiro a linha curatorial da exposição abrange a diversidade de matrizes, das diversas Áfricas presentes na Amazônia. “São comunidades tradicionais ressaltando os valores civilizatórios africanos no contexto amazônico, nos levando a refletir e mostrando a quantidade de elementos de africanidades em sua essência, e que podemos construir um acervo do patrimônio material e imaterial do universo simbólico das culturas africanas e afro-brasileiras na Amazônia.”, explica o curador.
A poética dos artistas de terreiro, vem se consolidando a partir das vivências e experimentos pessoais, que ao disputar espaço em galerias, museus, centros culturais, ruas, paredes, redes sociais, lugares onde jamais se imaginava expor, essa arte começa a ser vista, visitada e citada em publicações. Essa arte não segue os padrões e cânones eurocêntricos, já preestabelecidos, mas contextualiza a origem da população afro-brasileira e de terreiros. Para o curador Jean Ribeiro, as obras contêm “signos que remetem subjetividades, que suscitam conexões nas pessoas, se fazendo necessário a definição do papel da arte como imagem e força de um povo, o conceito de arte de terreiro surge em meio a toda essa dinâmica de pensamentos.”
Serviço: 7º Mostra Nós de Aruanda De 8 de novembro a 5 de dezembro – das 8h às 15h Centro Cultural da Justiça Eleitoral do Pará, Rua João Diogo, 254, Campina, Belém, PA. Gratuito