Não apenas por Mãe Juju e Marielle ou por Òsun (Oxum) e Oya (Oiá): Pela Soberania dos Povos Tradicio
“[...] E, se a fúria for a solução, que seja organizada, conduzida pelo cérebro e que se materialize nas ruas. Fúria virtual é só verborragia que derrama bílis na tela. [...]”
Cidinha da Silva,
16/03/2018
No braço de um dos ancestrais negro yorùbá (ioruba) Sàngó (Xangô) vê-se um bastão/porrete que mimetiza inúmeros princípios civilizatórios dos povos e comunidades tradicionais de matriz africana. O Machado Haste da divindade do trovão, duplo, aponta os princípios do complexo sistema òrun-àiyé (orum-aiyê) – mundo imaterial e intangível/mundo material e tangível - indica os princípios da acenstralidade, da circularidade, da oralidade, da senioridade, da fundante importância da mulher negra.
O Leopardo dos Olhos de Fogo a quem pedimos historicamente justiça se faz presente no dia-a-dia de seus descendentes, pois o Racismo é estrutural, não há paz para negras e negros, como nos diz Jurandir Freire Costa: “[...] a violência é a pedra de toque, o núcleo central do problema abordado. Ser negro é ser violentado de forma constante, contínua e cruel sem pausa ou repouso, por uma dupla injunção: a de encarnar o corpo e os ideais de Ego do sujeito branco e de recusar, negar e anular a presença do corpo negro”.
Luiza Bairros, Silvany Euclênio, Baba Paulo Cesar Pereira de Oliveira, Kota Regina Nogueira, Muniz Sodré, Makota Valdina, Tata Arthur Leandro, Vilma Piedade e tantas outras centenas de lideranças Brasil afora apontam, desde os anos 2000, que a sociedade abrangente, o Estado, as organizações partidárias e do próprio movimento negro, as mídias de massa, nos enxergam e nos divulgam como “Não Humanos”. Como inumanos desprovidos de cultura, de conhecimento, de técnicas sócio-políticas elaboradíssimas, de essências não-predatórias ao outro e ao meio-ambiente. Para eles estamos restritos ao universo da chamada “magia”. Quando muito nos colocam em cima do palco como “exóticos” em busca de aplausos e votos. Reside neste pensamento o cerne do Racismo.
A Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais de Matriz Africana, inúmeros marcos legais nacionais e internacionais existem para propor um debate mais alargado sobre o olhar racista da Sociedade, do Estado e da Academia. Somos Negras e Negros detentores de Humanidade sim! Olhem atentamente os dados quantitativos, as pesquisas, livros, publicações, rodas de conversa, vivências. Estão aí para comprovar, em números e em fatos, o genocídio material dos nossos corpos negros, da nossa cultura e epistemologia ancestral.
Não deveria ser necessário defender Mãe Juju, pois os méritos das acusações contra ela serão julgados pela dita “justiça institucional”. Defendemos Mãe Juju pela Soberania dos Povos Tradicionais de Matriz Africana. Deixemos de olhar para Ela e tantas outras centenas de lideranças tradicionais de matriz africana somente como detentoras de “magia”. Vamos alargar o olhar, desvelar o Racismo, indicar que a maneira do nosso povo tradicional de matriz africana ver e se relacionar com o outro e com o mundo é feita de muitas maneiras e formas, pelo qual o Estado, a Mídia de Massa, os Partidos, as Organizações Cnpjotizadas nunca irão compreender. Porque não querem!
Rafael Braga, Cláudia, Marielle, Òsun (Oxum), Oya (Oiá) e tantas(os) outras (os) vivem! Enfrentando a ausência de paz. Em alerta sempre, na busca de não continuar a cair na polaridade branca eurocentrada: feio x bonito / errado x certo / esquerda x direita / guerra x paz / homem x mulher / claro x escuro / polícia x crime. O que eles buscam ainda é a mesma coisa: Enredar nosso povo na dicotomia deles, dividir para governar.
Vamos escolher nosso lado?
Parte de Oríkì (oriqui), louvação às origens, evoca qualidades e realizações:
“[...] Não bate em mim e na minha família com sua Haste Machado
Òrìsà (orixá) forte o suficiente para nos proteger na vida,
Proteja-nos dos meus inimigos”.
Kabo ká biyè sí Sàngò, káwòóo ká biyè sí
Bem-vindo, vamos todos ver e saudar vossa alteza real Xangô.
Para saber mais sobre Marielle indico o artigo de Cidinha da Silva: Somos Todas Marielle Franco! Publicado no dia 16/03/2018 no Diário do Centro do Mundo. Disponível no link: https://www.diariodocentrodomundo.com.br/somos-todas-marielle-franco-por-cidinha-silva/
Para saber mais sobre Povos e Comunidades Tradicionais de Matriz Africana indico: SILVA NETO. José Pedro da. Caderno de debates: povos e comunidades tradicionais de matriz africana. Brasília-DF: PNUD/ONU, SEPPIR/PR, 2016. 62 p.
Disponível no link:
Para saber mais sobre Mãe Juju indico o artigo de Pai Rodney com a contribuição de Felipe Brito intitulado: Mãe Juju, o Estadão e a intolerância religiosa alimentada pela mídia publicado no dia 16/03/2018 para a Carta Capital.