As muitas festas do Jongo
- Thereza Dantas - Comunicação FCPT
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Por Thereza Dantas
“Saravá jongueiro velho. Que veio pra ensinar. Que Deus dê proteção pra jongueiro novo. Pro jongo não se acabar.”
Após a instituição do Registro de Bens Culturais de Natureza Imaterial pelo Decreto nº 3.551 de 2000, o Iphan, Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, autarquia vinculada ao Ministério da Cultura, reconheceu em 2005 o Jongo, ou Caxambu, ou Congo, como Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil.
O Jongo é uma das manifestações das resistências das culturas afro brasileiras, transmitida por descendentes das pessoas escravizadas de origem Bantu, vindas do Congo, Angola e Moçambique, e trazidas para trabalhar em lavouras de café e de cana-de-açúcar nos estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais, São Paulo e Espírito Santo, por volta do século 19. É dança, é música, é coletivo, é pai do samba e é resistência!
Completando 20 anos de reconhecimento, jongueiros do Vale do Café do Rio de Janeiro e São Paulo, e o Iphan, responsável pela preservação do Patrimônio Cultural Brasileiro, apoiadas por gestores municipais, inciaram uma série de encontros para articular políticas públicas que garantam a sustentabilidade e a valorização da história do Jongo nos seus territórios.
O Pontão de Cultura Fórum para as Culturas Populares e Tradicionais (FCPT) que tem hoje na presidência e vice-presidência dois jongueiros conhecidos: mestre Gil, do Jongo de Piquete (SP) e mestra Sol, do Jongo de Embu das Artes (SP), estiveram presentes nos dois encontros realizados para o fortalecimento das jongueiras e jongueiros.
No dia 26 de Julho, Dia Estadual do Jongo no Rio de Janeiro, o 4º Encontro de Jongos do Vale do Café aconteceu no Parque das Ruínas da cidade de Pinheiral (RJ), e mestra Sol participou das rodas de conversas e das rodas dos Jongos. Foram mais de 15 grupos jongueiros, oriundos, principalmente, das cidades localizadas no Vale do Paraíba, região onde se desenvolveu a histórica agricultura cafeeira.
Entre os dias 13 a 16 de Agosto, Mestre Gil e a jongueira Élida Castro participaram do Seminário Encontro de Jongueiros. Na programação no Rio de Janeiro, além do Seminário, oficinas, feira e a realização de uma Grande Roda de Jongo que ocupou com mais de 300 jongueiros e jongueiras, no dia 16 de Agosto, sábado, a Pça Tiradentes, no Centro.
O esforço dos organizadores do Jongo de Pinheiral, responsáveis pelo Centro de Referência de Estudo Afro do Sul Fluminense (Creasf) em articular políticas públicas que contemplem as necessidades de sustentabilidade, as lutas antirracistas e o reconhecimento da importância das Cultura Afrodescendente na história do Brasil, foram debatidas por pesquisadores das Universidades públicas, intelectualidades negras, políticos, gestores municipais, do Estado do Rio e do Ministério da Cultura, mestras e mestras jongueiros que representaram os 21 grupos vindos do interior do Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais, participantes do evento, realizado no Teatro Carlos Gomes.
Na mesa “Pesquisas e Inventários sobre o Jongo e o Vale do Café, a profa da UFF, Elaine Monteiro, informou sobre a RESOLUÇÃO CEPEx/UFF nº 3.929, de 25 de setembro de 2024, que concederá a titulação de Notório Saber em Saberes, Artes e Ofícios Tradicionais às Mestras Maria de Fátima da Silveira Santos (Mestra Fatinha do Jongo de Pinheiral), Marilda de Souza Francisco, do Quilombo Santa Rita do Bracuí, e ao Mestre Osvaldo José de Sena Filho (Ogã Kotoquinho), do Afoxé Filhas de Gandhi, e que serão entregues num evento que acontecerá no final do mês de Setembro de 2025. Segundo a profa Elaine Monteiro, o Programa Mestria, se apresenta não apenas como reconhecimento, mas também como reparação, uma vez que permite que mestres e mestras atuem como docentes na universidade, recebendo remuneração por seu trabalho. “As duas mestras e o mestre há muitos anos participam de atividades de ensino, pesquisa e extensão na universidade e integram há quase dez anos o projeto Encontro de Saberes na UFF”, explica.
Nas emocionantes rodas de conversas, os organizadores apresentaram o site do Museu do Jongo (https://museudojongo.org.br/author/museudojongo/) e o documentário Jongo do Vale do Café: https://www.youtube.com/watch?v=AjFa4QzCdFo. Obras que jogam mais luzes na formação dos grupos de Jongo no Brasil. Os gestores e políticos que participaram das mesas, enfatizaram a importância de criar canais de diálogos para fomentar a sustentabilidade dos grupos e o reconhecimento dos mestres e mestras do Jongo.
Diante das importantes ações, causou surpresa a manifestação dos grupos de Jongo dos Quilombos do Campinho da Independência, de Paraty, RJ, de Santa Rita de Bracuí, de Angra dos Reis, RJ, e dos jongueiros e jongueiras do Jongo da Serrinha, Madureira, RJ, e de Bindito Cruz, Mambucaba, RJ, que não se sentiram acolhidos pela organização do Encontro de Jongueiros, no Rio de Janeiro. Mesmo assim, integrantes dos Jongos dos Quilombos do Campinho da Independência e de Santa Rita do Bracuí estiveram presentes na Grande Roda de Jongueiras e Jongueiros, na Pça Tiradentes. Para mestra Cadinha, do Jongo do Quilombo do Campinho da Independência, o chamado à Grande Roda do Jongo “era para todos as jongueiras e jongueiros e meu coração me mandou vir!”.
O mês de Setembro de 2025 promete mais festas. Além da titulação de Notório Saber em Saberes, Artes e Ofícios Tradicionais pela UFF, o Iphan está organizando um encontro para discutir as questões relativas à salvaguarda do Jongo. Para quem não sabe, a salvaguarda de um patrimônio cultural envolve ações para preservar a memória, identidade e as práticas culturais praticadas pelos coletivos, comunidade e povos tradicionais. Neste encontro, o FCPT estará presente e torce para que as justas reivindicações de investimentos nos territórios contemplando turismo de base comunitária, educação diferenciada, reconhecimento de mestras e mestras das comunidades e quilombos sejam ouvidos e partilhados com todos as jongueiras e jongueiros da Região Sudeste.
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