Samba Negro não é só tambor!
Samba Negro não é só tambor!
“[..] Não se afaste de mim
Por favor não tenha medo
Em sua mão eu entrego
Meu coração e um beijo [...]”
Tenho Medo de Antônio Carlos
Ala dos Compositores do Kolombolo Diá Piratininga
Não há redundância em falar, escrever, percutir, dedilhar e elaborar o “samba” como matricialmente Negro. A tautologia será apontada somente pelo branco eurocentrado. Uma das estratégias do racismo – estrutural é historicamente apor irresponsavelmente no grande arcabouço da dita diversidade - tudo. O tempo, o capitalismo, as mídias de massa farão com que o lastro étnico-racial Negro deixe de existir em nome da falsa convivência pacífica entre homens.
Um pequeno exemplo disso é negar e propagar cotidianamente que, na “reza-samba” só existem instrumentos membranofones. Dizem que por conta da escravização de seres humanos, nós não conseguimos mais ancorar nossa memória na ancestralidade negra. Indicam que só conseguimos pequenas reminiscências de algo que já se perdeu. Mentira!
Desde menino, procuro mais que resquícios das inferências negras no genérico samba para tentar reestruturar com pragmatismo, um caminho digno entre os povos tradicionais de matriz africana e o que é difundido na sociedade abrangente.
Em 2000, um tilintar dedilhado por um negro bantu, me possibilitou ouvir a ponte de um novo fio para esta questão. Salloma disse: “Negro não é só tambor!”.
A partir daí alguns outros entoaram a mesma música. Vamos conhecer e vivenciar mais sobre estas relações – intelectuais e afetivas, que não foram perdidas?
Sugiro, a leitura da tese de doutoramento, de 2005, do Dr. “Salloma” Salomão Jovino da Silva, onde em profundidade apresenta e elabora muitas destas questões. Ele diz: “Os cordofones de corda dedilhadas são largamente utilizados no Brasil e curiosamente designados violas. Termo genérico que nem sempre coincide com as violas de dez cordas propriamente ou os cordofones de fricção parentes das rabecas e violinos. [...]”.
Outra sugestão para leitura sobre este assunto é a tese de mestrado, de 2015, de Rafael Galante, intitulada: Da cupópia da cuíca: a diáspora dos tambores centro-africanos de fricção e a formação das musicalidades do Atlântico Negro (Sécs. XIX e XX).
A sugestão final é o Samba de Viola no Mora Mundo, dia 14/04/2018, as 17 horas na Rua Barra Funda, 391 onde o Núcleo de Samba Paulista Bumbo do Japi fundado em 2012 pelos músicos e pesquisadores do samba paulista João Fernandes, Alexandre Franco, Marcelo Franco, Araê Cainã, Luccas Martins e Henry Durante, irão divulgar as matrizes do samba rural negro formadoras do samba paulista e valorizar suas comunidades tradicionais e seus compositores.
A cada dois meses a Roda de Samba do grupo Bumbo do Japi recebe um grupo ou comunidade para tocar o samba a partir de suas matrizes formadoras, percorrendo o universo do samba rural paulista, do samba de roda do Recôncavo baiano e das diversas vertentes dos batuques de terreiro.
O 1º grupo a ser recebido é o Kolombolo Diá Piratininga, fundado em 15 de maio de 2002 com o objetivo de realizar atividades de pesquisa, divulgação e valorização do samba de São Paulo.
Mais informações:
Mora Mundo
Link: https://www.facebook.com/moramundo391/photos/pcb.1142295545912087/1142295355912106/?type=3&theater
Tenho Medo de Antônio Carlos da Ala dos Compositores do Kolombolo
Link:
Memórias Sonora da Noite: Musicalidades africanas no Brasil Oitocentista
“Salloma” Salomão Jovino da Silva, São Paulo, 2005.
Da cupópia da cuíca: a diáspora dos tambores centro-africanos de fricção e a formação das musicalidades do Atlântico Negro (Sécs. XIX e XX).
Rafael Benvindo Figueiredo Galante
