Ìwé: Livro Iniciador para Crianças sobre a Tradição Iorubá
“No caso concreto, a palavra artesanal se expõe (sem nenhuma arrogância,
que a altivez do artesão está em ser e permanecer artesão) ao olhar superior
de uma das áreas acadêmicas modernas mais ativistas:
a da linguística aplicada ao ensino de línguas segundas.”
Nelson Rossi, 1988,
no prefácio de História de um Terreiro Nagô.
DOS SANTOS. Deoscóredes Maximiliano. Mestre Didi.
O Brasil recebeu mais de 5 milhões de africanos durante o tráfico transatlântico (ALENCASTRO, 2000). O escravismo e o racismo entranhados nas instituições e no imaginário nacional após a Lei Áurea, utilizaram como uma das estratégias de dominação a negação de valor à cultura, aos princípios civilizatórios e aos idiomas trazidos nos corpos e nas mentes dos africanos escravizados.
A língua, parte indissociável do corpo, é um dos principais elementos da identidade de um grupo. Quando foi negado ao escravizado "falar" sua língua, tentaram negar-lhe toda sua cultura. Para os povos tradicionais de matriz africana a palavra é uma força vital e fundamental, pois é o enunciado oral, é uma exteriorização de forças vitais e o resultado da integração de forças vivificantes das pessoas. Portanto – tudo precisa ser pronunciado, pois a palavra, ao ser dita, transmite energia, poder e dinâmica, repletas de metáforas e símbolos que nenhum papel ou gravador dará conta de sistematizar.
Capa ìwé 1 - 2018.
A oralidade é um princípio civilizatório destes povos. É através da oralidade que transmitem sua tradição e ancestralidade, perpetuam o ethos de cada comunidade para futuras gerações.
Para o Povo Yorùbá é também pela oralidade que se transmite a essência do ser, o ìwà, que são características e qualidades que a pessoa possui ou pode vir a adquirir em sua vida. É também destino, que surge dos procedimentos diários da pessoa no àiyé, mundo material e tangível, como as virtudes e as peculiaridades que regem sua norma de conduta, consigo e com a sociedade, favorecendo ou não as oportunidades que surgem em sua vida.
É outra estratégia desumanizadora e racista dizer que os povos tradicionais de matriz africana não “sabem escrever” ou que são “ágrafos”. A escrita, entendida como “representação da linguagem falada por meio de signos gráficos”, destes povos é outra, e assim, como a oralidade tem sentidos, signos, significante e significado que só poderão ser compreendidos quando o leitor for detentor da capacidade de decodificar o sistema e a cultura.
Mas nossos ancestrais resistiram e desenvolveram estratégias próprias para a preservação da sua humanidade, sua cultura e seu idioma, que estão vivos ainda hoje nas comunidades tradicionais de matriz africana constituídas de norte a sul deste país.
A parceria entre o Centro Cultural Orunmilá e a Àgò Lònà Associação Cultural lança o primeiro volume da série Ìwé Àlákóbèrè fún Omodé Nípa Àsà Yorùbá - Livro Iniciador para Crianças sobre a Tradição Iorubá. que visa construir momentos de ensino e aprendizagem sobre a língua e cultura yorùbá entre as famílias dos povos e comunidades tradicionais de matriz africana e demais interessadas(os) pela escrita e oralidade. Na publicação há um link com as gravações das sonoridades para todas(os) escutarem.
Ressaltamos que não buscamos realizar traduções literais da língua yorùbá, mas sim, tentar decodificar em palavras, desenhos e sons os significados delas para uso diário. Para 2019 está previsto o lançamento dos volumes 2 e 3.
Contra capa ìwé 1 - 2018.
Nos dias hoje, com tantas tentativas de “inventar a roda” é importante ainda, inspirados no lema do Movimento de Mulheres Negras: “Nossos passos vêm de longe!” referenciar algumas(ns) daquelas(es) que já fizeram trabalhos como este aqui no Brasil, entre elas(es): Mestre Didi Asipa, Pierre Fatumbi Verger, Sandra Medeiros Epega, José Flávio Pessoa de Barros, Aulo Barretti Filho (Esa Kitalesi), K. Ajibola Aiyemi, Fernandez Portugal Filho, Maria Stella de Azevedo Santos (Mãe Stella de Oxóssi), Yeda Pessoa de Castro.
Sobre os autores:
Paulo César Pereira de Oliveira é Bàbá Tolomi Ifatide Ifamoroti. Em Ribeirão Preto – SP, desde 1983, fundador do Centro Cultural Orunmilá. Possuí formação em Língua e Cultura Yorùbá, pelo Ibi Isé Fún Èdè Yorùbá, University of Ibadan, Nigéria.
José Pedro da Silva Neto (Pedro Neto) é Inátóbí, filho de Olasedele (Sandra Regina da Silva), iniciado no Ilé Àse Pàlepà Màrìwò Sessu – SP pela Ìyá Ìláyèwomi Olágbode, É cientista social, produtor cultural, documentarista e artista plástico.
O livro pode ser adquirido pelo Ogbefun Cultural, com distribuição para todo o Brasil no link: https://ogbefun.shopping.marketup.com/produto/iwe-alakobere-fun-omode-nipa-asa-yoruba-livro-iniciador-para-criancas-sobre-a-tradicao-ioruba-390
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