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Meu Tempo é Agora!

Sàngó l´àlábarò tiwà o.

Bi Sàngó ni oun yoo gbe ni, ko ni saí gbe ní.

Dobramos os joelhos e nos prostramos em respeito e agradecimento por tudo que fez por nossa tradição de matriz africana yorùbá a quinta Ìyálòrìsà “a primeira pessoa na coisa sagrada”[1] do Ilê Axé Opó Afonjá – Maria Stella de Azevedo Santos – Ìyánlá Odé Kayode. Olorun kosí puré!

foto: “Yalorixá do Terreiro Ilê Axé Opó Afonjá, Mãe Stella de Oxóssi”, 1999 por Mario Cravo Neto.

Não há dúvidas, de que a mais nobre filha do “Rei Caçador”, construiu e ressignificou o legado de nossas(os) ancestrais, negras(os). Não só pela sua astucia nas palavras e escrita, mas principalmente por sua visão de mundo balizado por princípios civilizatórios fincados na ancestralidade, na circularidade, na senioridade, na manutenção, cuidado e valorização do meio ambiente, enfim, na humanização de todas(os) nós iniciados na tradição dos Orisas (Orixás).

Signatária da mais alta grandeza, será honrada em nossos próprios atos fúnebres, que antes de mais nada, ritualizam nossas origens - ancestrais e negras – onde, a imortalidade é pilar fundamental de nossa existência. Cantamos e lembramos hoje o que já foi o ontem para fortalecer o amanhã.

Oportunamente estive com minha bisavó em dois momentos ao longo da minha vida. Em 1997 na cidade de São Paulo, durante e depois de um seminário na PUC onde continuamos a prosear sobre as perspectivas do “candomblé” em tempos de modernidade. Já naquele tempo ela preocupava-se como e onde passar os ensinamentos e conhecimentos sobre nossa tradição para os mais novos. Ao final de sua fala, entregou uma dobradura de flor feita em um pedaço de papel para uma pessoa na plateia que não conhecia. Nesse momento percebi o que a Ìyá e Agbeni Cléo Martins e o Loju Togun Roberval Marinho escreveram em 1992, sobre a mulher de “um brilho de determinação em olhos penetrantes”.

O outro encontro foi para a organização do XIV Alaiandê Xirê – Seminário e Festival Internacional de Culturas Africanas e Afro-Brasileiras realizado na cidade de Embu das Artes, São Paulo em 2013. Foram mais de dois anos organizando. Depois de autorizar e dar a “benção” final para a realização da atividade nos disse: “Gostaria de saber mais sobre estes tais desafios da cultura afro-americana no século XXI”, referindo-se ao tema do encontro. Fomos premiados pelo Instituto do Patrimônio Artístico Nacional – IPHAN do Ministério da Cultura com o edital Patrimônio Cultural dos Povos e Comunidades Tradicionais de Matriz Africana 2014/2015. Um olho no ontem o outro no amanhã!

Capa do livro Meu Tempo é Agora de Maria Stella de Azevedo Santos, 2a. Edição, 1995.

Enganam-se aqueles que acreditam que o Ilê Axé Opó Afonjá termina aqui. Desde, pelo menos 1910, existe um território tradicional de matriz africana yorùbá que perpetua e diariamente alimenta nossos ancestrais com centenas de pessoas capacitadas e apoderadas para fazê-lo, não só em Salvador.

Neste momento de aparente desbrio, onde os leões espreitam achando que existe caça fraca é que todas(os) as filhas(os) e descendentes do Ilê Axé Opô Afonjá comprovarão que “nossos passos vêm de longe” e “nosso tempo é agora”!.

Paz no renascimento para Ìyánlá Odé Kayode!

Vida longa e prospera ao Ilê Axé Opô Afonjá!

Sàngó l´àlábarò tiwà o.

Bi Sàngó ni oun yoo gbe ni, ko ni saí gbe ní.

Xangô é nosso conselheiro.

Se Xangô disser que vai nos apoiar, jamais deixara de fazê-lo.

[1] VERGER. Pierre Fatumbi. 1992.

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