As pérolas de Obaluaiê*

Olubaje no Ilê Obá Ketu Axé Omi Nlá – SP, foto: Fernanda Ayodele Procópio/2010.

Dia 7 de dezembro, sábado, um teatro no coração de SP, vira ocupação que vira Terreiro que vira conselho político. Nesse dia, acontece a posse do Conselho Político da Ocupação Cultural Jeholu que contará com a roda de conversa "O Racismo e a Matriz Africana".

A Ocupação Cultural Jeholu nasceu em 2018, para pensar coletivamente a identidade negra, seu protagonismo, promover o diálogo entre tradição e novos desafios a partir do olhar das comunidades de Terreiro. Foi acolhido por um teatro que não tem receio em dialogar com o entorno, com os moradores do território. “A sede da Ocupação Cultural Jeholu é a sede da Cia. Pessoal do Faroeste”, afirma o idealizador da ocupação, Felipe Brito.

Arte e Políticas Públicas

Fundada em de janeiro de 1998, a Cia Pessoal do Faroeste realiza trabalhos artísticos que refletem o nosso dia a dia, dentro de uma perspectiva histórica. O grupo cria intervenções que dialogam com o centro de São Paulo e assim, ampliam uma relação de pertencimento na região da Luz, conhecido como território da cracolândia.

“A Cia. Pessoal do Faroeste está dentro de um dos primeiros projetos de gentrificação da cidade de SP. O bairro nasceu quando General Osório doou as terras aos combatentes negros das guerras que o Brasil participou no final do século 19”, explica Paulo Farias, diretor e artista/ativista da Cia. Pessoal do Faroeste. “Foi uma forma de transferir a população negra da Pça da Sé para um bairro próximo da linha do trem.” A região já foi a zona das produtoras das pornochanchadas, e é a esquina do Samba, para os moradores do bairro. Mas a Cia Pessoal do Faroeste quer jogar luz nem outras versões/visões do bairro. “Sempre que escolhemos um tema para ficcionar para o palco, abrimos o espaço para o debate, como os encontros Bate boca, a curadoria compartilhada com um pesquisador e a população local, e assim iniciamos o processo de criação que geram documentários e textos teatrais”, explica Paulo Faria. “Eu acredito que a gente trabalha com entretenimento. Trabalhamos com musicais, com melodramas, trabalhamos com a perspectiva do entretenimento mas nos preocupamos com o conteúdo para formar uma plateia ativa e pensante”, define o diretor. Com esse processo, o grupo tem hoje dez textos inéditos que tratam da história de SP. Para Paulo Faria “Política e Arte caminham junto”.

As pérolas de Obaluaiê

A medida que a pesquisa de teatro foi se aprofundando, o grupo percebeu que era necessário proteger os corpos vulneráveis que vivem nesse território. O Instituto Luz do Faroeste é a organização criada para trabalhar a questão dos Direitos Humanos e onde, o jornalista Felipe Brito é diretor executivo. O mesmo Felipe Brito idealizador da Ocupação Cultural Jeholu, que tem como objetivo pensar e produzir ações e atividades antirracistas.

Grosso modo, a luta antirracista inclui crenças, ações, movimentos e políticas adotadas ou desenvolvidas para se opor ao racismo. De acordo com o jornalista, 90% dos integrantes da Ocupação Cultural Jeholu são negros. “No teatro da Cia. Pessoal do Faroeste desenvolvemos os núcleos de Ópera Negra, do Samba e os Saberes e Pensares do Terreiro”, informa Brito. No dia 7 de Dezembro, mais uma frente será criada com a posse do Conselho Político da Ocupação Cultural Jeholu. “Somos lideranças das religiões da matriz africana, artistas, ativistas na luta antirracista no teatro e nos nossos espaços de atuação”, explica Brito.

A Ocupação Cultural Jeholu é o fruto da união de um grupo de pessoas alinhadas com os novos discursos, os novos corpos, e as representatividades do mundo contemporâneo. A posse do Conselho Político é um espaço de debate e resistência em favor de uma sociedade democrática e representativa. No coração de SP.

Serviço:

Posse do Conselho Político da Ocupação Cultural Jeholu com a roda de conversa "O Racismo e a Matriz Africana", com participação de Dra Regina Nogueira Kota Mulanji (coord. Nacional do FONSAPOTMA), Prof. Juarez Xavier (UNESP), Dra Maria Sylvia (Presidência Gelédes) e Baba Sidnei Nogueira (CCRIAS Sango).

Dia 7 de dezembro, sábado, às 16h, na sede da Cia Pessoal do Faroeste - Rua do Triunfo, 301, Santa Ifigênia, Centro de SP.

Mais informações na pagina do evento Racismo e Matriz Africana/Posse do Conselho Politico Jeholu

*Obaluaiê (ou Omolú) é o senhor das pérolas, que representam sua riqueza e poder.