O Samba de Bumbo pede passagem
Reunião, realizada em 15/02, reinicia a elaboração do Dossiê do Samba de Bumbo para integrar a lista de Patrimônio Imaterial Brasileiro do IPHAN.
O mundo reconhece o Samba como uma das grandes expressões da cultura brasileira. E o Samba não é um só, ele é muitos. O Samba de Roda do Recôncavo Baiano (2004), e as Matrizes do Samba no Rio de Janeiro: Partido Alto, Samba de Terreiro e Samba-Enredo (2007), são dois Bens Imateriais já reconhecidas pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Sambistas, pesquisadores e mestres do Estado de São Paulo também pleiteiam, desde 2005, o reconhecimento do Samba de Bumbo.
O escritor Mário de Andrade, nos anos de 1930, realizou um estudo etnográfico sobre esse tipo de samba em São Paulo e em Pirapora do Bom Jesus. O “Samba Rural Paulista”, nome utilizado por Mário de Andrade, foi impulsionado pelo cultivo do café no Vale do Paraíba e se espalhou pelas cidades do interior paulista até o sul de Minas Gerais. Em todos os registros históricos dos grupos musicais, mesmo os que hoje praticam esta modalidade, o instrumento comum é a zabumba, ou o bumbo, e por isso o nome popular de Samba de Bumbo. Este “samba” permaneceu no interior do estado paulista um tanto escondido, mas nunca morreu.
Em setembro de 2019, a Superintendência em São Paulo do IPHAN tornou pública a chamada para seleção de propostas para a elaboração do dossiê de Registro do Samba Rural Paulista ou Samba de Bumbo como Patrimônio Imaterial Brasileiro. O Fórum para as Culturas Populares e Tradicionais (FCPT), proponente do processo de Registro em 2005, continuou participando, junto com os mestres sambistas, desse processo de reconhecimento da diversidade da cultura do Samba.
Esse ano, no dia 15 de fevereiro, o FCPT, na figura do cientista social Pedro Neto, integrou a reunião do Grupo de Trabalho Samba Bumbo que contou com a presença de Marcos Monteiro Rabelo (IPHAN SP), Elisabeth Mitiko Watanabe (UPPH CONDEPHAAT), Walter Pires (DPH-SP), integrantes do Centro de Estudos da Cultura Popular – CECP e representantes dos grupos: Comunidade Cultural Quilombo do Sambaquí; Grito da Noite; Kolombolo Diá Piratininga; Samba de Bumbo Nestão Estevam; Samba de Bumbo Vovô da Serra do Japí; Samba do Cururuquara; Samba do Pé Vermeio; Samba Lenço de Mauá; Samba Lenço de Piracicaba e Urucungos, Puítas e Quinjengues.
Na reunião foi apresentada ao Centro de Estudos da Cultura Popular (CECP), a linha do tempo do processo de registro do Samba de Bumbo ou Samba Rural Paulista como Patrimônio Imaterial Brasileiro. O CECP é uma organização da sociedade civil, criada em abril de 1999, por integrantes da extinta Comissão de Folclore da Fundação Cultural Cassiano Ricardo, de São José dos Campos, e será responsável pela pesquisa dos elementos necessários para elaboração do Dossiê para o Registro do Samba de Bumbo como Patrimônio Imaterial, junto ao IPHAN.
Nesse encontro retomou-se o “sumário” do dossiê aprovado em reunião de 05/03/2016, quais os mecanismos de armazenamento e disponibilização dos documentos, fotos e vídeos, relacionados ao Dossiê quanto ao Plano de Salvaguarda, serão adotados e formou-se a Comissão de Acompanhamento com representantes dos grupos e comunidades, do CECP, do FCPT, do IPHAN SP, UPPH CONDEPHAAT, DPH SP e pesquisadores.
Os representantes dos grupos de Samba de Bumbo pontuaram sobre a necessidade de realizar um dossiê com a participação ativa dos “detentores”, e não só como “objetos” de pesquisa. O representante do IPHAN, Marcos Monteiro Rabelo, achou pertinente a fala dos mestres. “Gostei muito dos pontos apresentados pelos representantes dos grupos de samba. São provocações bastante positivas, que colocam como desafios para a construção do dossiê", avaliou Monteiro Rabelo.
O FCPT, proponente junto aos Mestres, continua participando ativamente e coloca-se a disposição do Centro de Estudos da Cultura Popular – CECP, para agregar nesse importante processo de reconhecimento da diversidade e riqueza da Cultura Popular paulista e Brasileira.