Racismo e Antirracismo no século 21
Hoje é dia 20 de novembro e o Fórum para as Culturas Populares e Tradicionais quer contribuir com temas para a reflexão e o não apagamento do Dia Nacional da Consciência Negra e consequentemente, de grande parte da nossa História.
O Brasil foi criado como uma colônia de exploração econômica. Essa exploração, com a corrida pelos minérios, riqueza no nosso solo, fez com que a sociedade decretasse, no simbólico e na prática, sujeitos de segunda categoria para justificar sua forma de expansão econômica em terras que tinham sido colonizadas, como o Brasil. O Racismo, o Machismo, a violência pela posse por essa terra são sintomas dessa cultura que perduram ainda, no imaginário do século 21.
A equipe de Comunicação do FCPT convidou a intelectual e professora Vilma Piedade para uma entrevista sobre como a sociedade brasileira pode mudar essa cultura de exclusão por outra, mais solidária. Vilma Piedade é pós graduada em Ciência da Literatura UFRJ, feminista antirracista, é autora do Livro Conceito Dororidade, lançado em novembro de 2017, pela Editora NÓS. Ela é uma das colunistas do Canal Pensar Africanamente e do Coletivo Pretaria.
FCPT: Profa. Vilma, no Brasil de hoje vivemos um debate sobre a luta antirracista. Como a sra. analisa esse movimento?
Vilma Piedade: A Luta Antirracista ganha destaque nos EUA e no mundo, após a morte cruel de Georde Floyd. Diante dessa violência, surge o Movimento “Vidas Negras Importam”!
Contudo, a luta contra o Racismo, no Brasil, vem desde que nossos ancestrais que foram escravizados aqui. Os Quilombos são esses lugares de Resistência e preservação de nossa Identidade Cultural Ancestral. Alguns foram liderados por mulheres, como Teresa de Benguela, porém, o destaque na Luta Antirracista tem como referência o Quilombo de Palmares, na Serra da Barriga, em Alagoas.
Apesar de “Vidas Negras Importam!” ter ecoado no mundo e trazido pessoas não negras pra Luta Antirracista, o que é muito importante, como diz a Marcha das Mulheres Negras: " Nossos Passos vêm de Longe". O Racismo não nos dá tréguas, na rua, na escola, no trabalho, ainda se faz necessário, em pleno século 21, discutir, resistir. Racismo mata. Racismo faz mal à saúde física, mental e emocional.
FCPT: Como a luta antirracista pode transformar a nossa sociedade?
VP: O processo é lento. O Racismo Estrutural tem várias facetas, ora contra os Povos Tradicionais de Matriz Africana , ora Institucional, ora Linguístico, ele vai estruturando as relações sociais, já que também é Sistêmico. Como disse Ângela Davis: " não basta não ser racista, é preciso ser antirracista ". Não tem fórmula, mas já é um avanço para a população negra ter pessoas não negras saindo do seu lugar de privilégios e se aliando nessa resistência.
FCPT: A sra. poderia citar exemplos de ações antirracistas praticadas na nossa sociedade?
VP: Com o Movimento “Vidas Negras Importam” observamos vários artistas brancos, famosos, e artistas negros também, cedendo suas redes sociais para que a Negritude usasse para expandir esse Movimento Antirracista. Estamos vivendo tempos difíceis, na pandemia foi muito bom ver as ações solidárias em relação as pessoas moradoras na periferia. Solidariedade não tem cor, não tem raça!