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Cultura Popular não é disneylandia



A cultura popular reúne tradições culturais que representam um conjunto de saberes que reforçam a interação dos indivíduos em determinados territórios. Parece muito fácil, por que é fluido, está no nosso dia a dia, mas ela carrega muitos elementos vitais para a manutenção de uma Cultura como a caiçara ou quilombola.


Por isso, podemos afirmar que Igreja de São José, construída em 1879, é muito importante para os quilombolas do Quilombo do Bracuhy, pois é fruto de negociação com o comendador José Joaquim de Souza Breves, que legou aos africanos cerca de 260 alqueires da chamada Fazenda Santa Rita do Bracuhy, em Angra dos Reis, no sul do Estado do Rio de Janeiro. Faz parte de sua história.


Recentemente, quilombolas e sitiantes foram informados sobre um projeto de “modernização” do entorno da Igreja de São José, que possui um cemitério onde estão “os túmulos quase bicentenários tanto de caiçaras quanto de pretos”. Para as lideranças quilombolas, o projeto criado pelo responsável da Paróquia São Sebastião, em Angra dos Reis, o Pároco Gilson, o secretário municipal de Cultura, Andrei Lara, o vereador Eduardo Miller (PSD) e a deputada suplente empossada Célia Jordão (PL), não está levando em conta a opinião dos que vivem na região.


O Instituto de Pesquisa Histórica e Arqueológica de Angra dos Reis, o IPHAR, redigiu a “Carta aos Quilombolas”, em 13 de Abril, onde afirma que a “bem intencionada” reforma do madeiramento, do telhado, da descupinização da talha do altar-mor e outras melhorias da infraestrutura” é uma iniciativa muito bem-vinda mas que o projeto não deve desrespeitar o conjunto do patrimônio edificado (igreja, muros e cemitérios laterais) tombado por lei no processo E-03/27.970/82, pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural, o INEPAC, instituição responsável pelo Patrimônio Histórico do Rio de Janeiro, ligada ao Governo Estadual e à Secretaria de Cultura e Economia Criativa, SECEC RJ.


Os moradores querem que o projeto mantenha sua constituição bucólica e rural e que o restauro deva ser reparatório e não modificador. Para o IPHAR, o projeto deve acolher as ponderações dos quilombolas e sitiantes e realizar apenas intervenções “estruturais e restauradoras, em termos tanto de cobertura de telhamento, madeirame/tesouras, paredes, combate a xilófagos nas talhas do altar-mor e móveis, revisão hidráulica e elétrica, pintura exterior e interior e reposição de pisos faltantes ou danificados”.



Mas a grande preocupação é que existe a possibilidade de cimentar os túmulos do adro frontal e laterais ao corredor de entrada, que para pesquisadores, quilombolas e moradores devem ficar como e onde estão, conforme testemunhos e registros dados pela comunidade, “sob risco do autor estatal incorrer em crime de vilipêndio de cadáver”.


Ninguém discorda da importância do restauro da Igreja de São José, o que está em jogo é a velha prática de projetos financiados com dinheiro público sem o devido debate com os mais interessados: a população. Essa prática não cabe mais no século 21 porquê deixa suspenso no ar a desconfiança de ser um projeto de higienismo étnico, com fins especulatórios fundiários, para forçar o desaparecimento do passado escravista e "inventar" um cenário turístico eurocêntrico. Resumindo: Cultura Popular não é disneylandia!



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