Mais lugares para as muitas falas
Tema de livro da filósofa e imortal paulista Djamila Ribeiro, Lugar de Fala tem como definição o local de fala da pessoa, no sentido de compreender de onde vem a 'voz' que fala sobre determinado tema. O novo nome “lugar de fala” é um velho espaço de disputa dos variados setores da sociedade.
Se nos anos de 1940, o Teatro e as Artes Visuais nos apresentaram textos, montagens, pinturas de artistas como Abdias do Nascimento, Ruth de Souza, Haroldo Costa, José Maria Monteiro e Roney da Silva comprometidos com a ampliação do debate sobre a importância do legado dos povos africanos nas Artes brasileiras. Na virada desse século, os questionamentos sobre uma Arte realizada, produzida e protagonizada por afrodescendentes ganhou o campo audiovisual.
Diretores como Jeferson De e Joel Zito Araújo iniciaram o debate, e a produção de filmes, e agora podemos acessar inúmeras obras cinematográficas realizadas por diretores e profissionais mais ligados com a estética afro-brasileira. Um exemplo é o Coletivo CRUA, iniciativa de um grupo de jovens de vários bairros da periferia do Rio de Janeiro que se reuniram em 2013 envolvidos em diversas áreas da cultura criativa, como cinema, fotografia, artes plásticas, teatro e música.
Entre 2014 e 2016, Alan de Souza, Naouel Laamiri, Rafael Ferreira e Raphael Cruz iniciaram uma viagem pela Costa Verde fluminense interessados em registrar as comunidades quilombolas dessa região. “Até então, não conhecia nenhum quilombo, é era incrível, nós como negros, não sabermos de comunidades como essas que estão a algumas horas da nossa casa”, explica Rafael. Convidados por um cineasta do Quilombo do Campinho, Fabio Martins, foram apresentados ao Quilombo da Caçandoca, localizado em Caraguatatuba, SP, onde os moradores queriam gravar um doc. Ele foi a primeira comunidade quilombola do Brasil a receber titulo de terra por interesse social.
O filme Quilombo da Caçandoca, Uma Raiz Viva é um media metragem de uma hora de duração. Segundo os diretores, ele tem duas edições; no primeiro corte o doc é mais expositivo, com muitas falas de como sobre o que acontecia dentro da comunidade. “Mas percebemos que o lugar era muito mais do que só conflito. Caçandoca tem uma beleza natural e uma tranquilidade que fala por si”, avalia Rafael. Essa beleza gerou a segunda edição cujo link está a disposição no final dessa matéria.
Uma beleza quase idílica. Para o diretor Alan de Souza existe, nesse media metragem, um certo “olhar saudosista porque trata de modos de vida que estão cada vez mais escassos”. De um estilo de vida sem tantos produtos que as casas modernas oferecem mas que são construídas conforme as necessidades de uso. “Mas não é utópico, pois ele nos apresenta um caminho para resolver os problemas socioambientais e econômicos que estão cada vez mais presentes e precisamos olhar esses lugares, e aprender, a nos relacionar de forma diferente com a Vida”, explica Alan. Para os criadores do filme Quilombo da Caçandoca, Uma Raiz Viva são esses locais, que preservam uma outra lógica de viver, que poderão nos dizer como viver o Futuro.
Imagens do lançamento do filme Quilombo da Caçandoca, Uma Raiz Viva no Quilombo da Caçandoca, em 2016
*Novos Debatesfaz parte de uma série de matérias sobre os debates que estão surgindo no século 21 como Reparação Histórica, Racismo Ambiental, Sustentabilidade das Culturas Populares, Turismo de Base Comunitária e Arte Brasileira e ferramentas digitais. A jornalista Thereza Dantas, diretora do FCPT, compartilhará essas experiências no site do FCPT, informando sobre ações que já estão sendo realizadas no nosso país.
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