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O Meio Ambiente também é vítima do Racismo




A palavra racismo é um substantivo masculino que causa, desde 1500, muitos danos à maioria da população brasileira. No dicionário, o racismo é definido como “preconceito, discriminação ou antagonismo por parte de um indivíduo, comunidade ou instituição contra uma pessoa ou pessoas pelo fato de pertencer a um determinado grupo racial ou étnico”. Esse conceito acaba individualizando pessoas e grupos e o racismo à brasileira é um pouco mais complexo.

Além das violências praticadas contra grupos minorizados, seus territórios também vivem sob os ataques preconceituosos e sobrevivem com políticas de exclusão. Grosso modo, o racismo ambiental é quando os territórios das comunidades de indígenas, quilombolas, comunidades tradicionais são submetidos a situações de degradação ambiental ou sumariamente invadidos e usurpados. O racismo ambiental está também presente nas cidades, através da ausência do esgoto, de saneamento básico, de estradas com boas condições de tráfego, de praças e jardins, de espaços como bibliotecas, centros culturais e escolas públicas nos territórios sistematicamente esquecidos.

É mais um novo conceito comparado com as teses sobre O Racismo e que agora trazemos para a série de matérias *Novos Debates. O objetivo é acrescentar camadas sobre os problemas que permeiam a nossa sociedade. Comunidades tradicionais e Povos Indígenas já não estão mais tão distantes e a pesquisadora/griôt Tania Pacheco, do blog Combate Racismo Ambiental, percebeu essa mudança já tem algum tempo.



FCPT: O que te moveu a criar o blog Combate Racismo Ambiental, em 2009?

Tania Pacheco: Criei o blog em 2007, mas ele só foi ao ar em 2009. Essa presença virtual é o reflexo do meu trabalho sobre Justiça e Direitos Humanos que realizo desde os 18 anos. Nessa época, fazia parte da Rede Brasileira de Justiça Ambiental, onde coordenava o GT Racismo Ambiental. O blog foi uma outra forma de dar encaminhamento para as nossas lutas e também para ampliar a nossa presença nas novas redes, que explodiam na internet.

A ideia era usar esse espaço virtual para dar visibilidade aos temas da injustiça ambiental contra povos indígenas, quilombolas e comunidades tradicionais, e também comunidades urbanas que eram vítimas de racismo ambiental. Não só as lutas das comunidades negras como também da comunidade dos nordestinos, forçadas a migrar para a região Sul e Sudeste e, recentemente, para as fazendas de plantio de soja, no Mato Grosso. Também os ciganos são vítimas de racismo ambiental no Brasil.

É claro que entendo que não adianta tratar só sobre a pauta Racismo Ambiental. Ele é parte do sistema Capitalista que usa dessa violência para escravizar ou expulsar esses povos e essas comunidades de suas terras. Por isso criei o blog, para mexer nessa ferida mas também nas origens dessa ferida, informando de forma mais ampla possível sobre todos as partes desses problemas.


FCPT: Já são mais de dez anos de luta virtual, o que mudou?

Tânia Pacheco: Mudou muita coisa… Para pior e para melhor.

Melhorou o protagonismo das comunidades minorizadas na defesa de seus direitos. Temos uma explosão, principalmente do movimento indígena, dos movimentos negros…. Protagonismo como o Acampamento Terra Livre, o ATL, que está na sua décima oitava edição a partir do dia 4 de abril, em Brasília.


Quando lancei o blog, era curioso que muitos parceiros me criticavam pelo nome Combate Racismo Ambiental. Argumentavam que adjetivar o racismo era uma forma de diminuir a luta mas vejo, de forma positiva, que essas resistências deram espaço para a compreensão do termo. Hoje, nos encontros que debatem o racismo no Brasil, também dão espaço para esse tema. No encontro realizado em outubro de 2021, a Comissão de Direitos Humanos da ONU, também falou das questões ligadas ao racismo ambiental praticadas pelo Governo brasileiro. Na COP 26, que aconteceu no final do ano passado, presenciamos grupos da sociedade civil representantes dos povos indígenas e dos movimentos negros do Brasil ocupando as praças e ruas de Glascow, na Escócia, e o racismo ambiental ganhando destaque nas reivindicações desses grupos.


A parte ruim… bom, a parte ruim é que essa luta do racismo ambiental é uma parte da luta contra um todo Capitalista. E no Brasil, nesses últimos três anos, os direitos dos povos indígenas, quilombolas e das comunidades tradicionais estão sendo muito desrespeitados. É quase um programa de genocídio, de ecocídio, de tudo muito ruim ao mesmo tempo.

Prevalece a necropolítica. Assistimos, por exemplo, na pandemia da covid 19, os próprios povos indígenas fechando seus territórios para poderem sobreviver. Indo ao STF para garantir vacinação e água para beber. E isso foi estendido às comunidades das periferias nos grandes centros urbanos, que viveram momentos de muitos sacrifícios gerados por um Governo que não tem, visivelmente, interesse nessas pessoas.


FCPT: Aos 76 anos, quais são os planos possíveis para os próximos anos?

Tânia Pacheco: Continuar nessa luta enquanto eu puder. Essa luta faz o meu sangue pulsar mais forte nas veias porque a minha indignação contra tudo isso é muito grande. E ela não se restringe ao blog Combate ao Racismo Ambiental. Eu sou coordenadora executiva de um projeto chamado Mapa de Conflitos envolvendo Justiça Ambiental e Saúde no Brasil, em parceria com a Fiocruz.

O mapa está à disposição na internet, qualquer pessoa pode acessar. São 615 casos de conflitos ambientais. Por exemplo, apesar da população indígena corresponder a 0,47% da população brasileira, segundo IBGE de 2010, mapeamos 138 conflitos diretos, espalhados pelo Brasil. Essa é a comprovação de como esse país nega os Direitos Humanos para a maioria da população e pratica o racismo ambiental.

Por isso, os meus planos são continuar o blog, o trabalho no Mapa de Conflitos, participar de debates e continuar escrevendo artigos. Enquanto eu puder esses são os meus planos: lutar pela Justiça, pela Democracia e pelo Ecossocialismo.


Link Blog Combate Racismo Ambiental



*Novos Debates faz parte de uma série de matérias sobre os debates que estão surgindo no século 21 como Reparação Histórica, Racismo Ambiental, Sustentabilidade das Culturas Populares, Turismo de Base Comunitária e Arte Brasileira e ferramentas digitais. A jornalista Thereza Dantas, diretora do FCPT, compartilhará essas experiências no site do FCPT, informando sobre ações que já estão sendo realizadas no nosso país.



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