Quem é do samba não deixa o samba morrer ou quem canta seus males espanta!
Samba é roda de músicos na rua, bares na rua e encontros na rua, concordam? Pois quem é do Samba dá volta em pandemia e mantém a chama acesa, até em período de distanciamento social. E foi nesse período mais crítico do isolamento social, que a cantora Teresa Cristina manteve a chama acesa. Foi por medo da tristeza, que a cantora e compositora chamou a cultura dos sambas dos terreiros e iniciou lives que chamaram a atenção pela alegria, despojamento e por seu amor à Vida. Em plena pandemia ela conseguiu patrocinador e, no dia 20 de julho, lançou o DVD "Teresa canta Noel - Batuque é um privilégio”, no Canal Bis.
A cantora e compositora carioca nos concedeu o privilégio de finalizar a série de entrevistas com artistas e trabalhadores da Cultura que enfrentam, com coragem e criatividade, a pandemia da covid-19. Questionamentos, modos de sobrevivência, tentativas de gestão para aplacar o caos foram as formas de enfrentar coletivamente um momento grave que ainda estamos passando. Não é um ponto final, é só uma pequena mostra de que a Arte é Vida!
Vida que segue, segue a entrevista com a grande sambista Teresa Cristina:
Site FCPT - Como artista, você sempre esteve presente em apresentações no teatro, bares e até em manifestações. Qual era a sua relação com o mundo digital antes da pandemia?
Teresa Cristina: Sempre tive redes sociais, mas nunca tinha me aventurado no mundo das lives e de toda essa abrangência proporcionada por esses encontros virtuais. Sou participativa no Twitter. Sempre mexi no Instagram, fazia minhas postagens como uma usuária normal. Agora, posso afirmar que estou craque na mecânica das lives. E estou feliz em trazer música para as pessoas em tempos tão difíceis que vivemos.
Site FCPT - Como surgiu a ideia das lives?
Teresa Cristina: Começou com uma preocupação séria: o medo de entrar em um quadro depressivo. As notícias começaram a ficar cada vez mais fortes e sérias. Minha mãe tem 80 anos e um grau de ansiedade muito forte. Perdi o sono. Não conseguia dormir. Absorvi notícias pesadas, aliás até hoje, né? Daí pensei: preciso fazer alguma coisa que me dê prazer imediato. Nada funcionava. Uma noite, fiquei ouvindo Dona Ivone Lara até 6h da manhã. Escutei coisas que eu achava que conhecia. Foi uma descoberta. Eu não conhecia nada. Músicas que eu nunca tinha ouvido. Todo mundo estava fazendo live, pensei: acho que vou fazer alguma coisa para falar sobre as músicas dela. No mesmo dia algum seguidor, no Twitter, falou de samba de terreiro como se fosse de Umbanda ou Candomblé. E várias pessoas seguindo a mesma coisa. Aí comecei a explicar sobre Samba de Terreiro. Pensei: vou fazer uma live falando de Samba de Terreiro. O assunto não coube em uma live só. Já tinha começado a ocupar minha mãe fazendo aos domingos com ela, porque ela gosta de cantar também. Então comecei a fazer esporadicamente. As coisas ficaram piores (a pandemia), as declarações do presidente ficaram ainda mais perigosas. Quando vi, estava com lives todos os dias. E percebi a minha animação ao pesquisar os temas e curiosidades que eu iria apresentar à noite, trocando ideia com as pessoas.
Site FCPT - Sua atuação nas lives têm chamado muito a atenção pelo desprendimento. Isso aconteceu naturalmente?
Teresa Cristina: Essa pergunta é interessante, pois me leva de volta à infância. Vivi e reagi ao racismo desde os seis anos. Sempre fui uma aluna aplicada, e minha professora levava as minhas provas na frente da turma e dizia: ‘Vocês têm de ser igual a ela’. Mas a reação dos colegas por eu ser preta e inteligente era muito ruim. E aí, de alguma forma, entendi que precisava esconder a minha inteligência para não ser agredida. Muito extrovertida, me retrai com esse medo. Nas lives, me vejo de um jeito que sempre fui, mas escondia. É a minha volta para esse lugar. E uma vez que se quebra uma casca, você não se cobre de novo.
Site FCPT - E os fãs? Existe uma boa interação no mundo virtual?
Teresa Cristina: Eu sigo encantada com a proximidade que tenho com os fãs por conta da live. Nunca vivi isso e nem tive fã-clube cativo. Tenho muito carinho pelos Cristiners. Eles mandam mimos para mim, coisas bem simples, mas que têm um efeito bem grande em mim. Enviam salgadinhos, cartinhas feitas à mão. É uma demonstração de carinho que tem mexido muito comigo. Me emociona, pois, ganho avalanches de carinhos todos os dias. É uma experiência muito nova para mim. Acho incrível quando vejo atores e músicos conversando com os outros seguidores. Se fosse numa situação normal, provavelmente eles seriam abordados com um pedido de selfie. Ali, todos estão na mesma festa, num clima mais relaxado.
Site FCPT - Quando essa pandemia for embora, você pretende continuar o seu trabalho musical no mundo virtual?
Teresa Cristina: Esta ligação com o público é uma conquista que nenhum artista pode abrir mão. Não sei de que forma, mas vou continuar. Certamente, terei ideias que vão envolver o ambiente virtual. Mas quando essa pandemia se for – e ela vai! – quero mesmo é me aglomerar numa boa roda de samba com minhas amigas e amigos.
Serviço
Lançamento do DVD "Teresa canta Noel - Batuque é um privilégio", no Canal Bis. Acontecerão outras exibições nos dias:
23/07, quinta - 00h
24/07, sexta – 05h,
24/07, sexta - 14h
25/07, sábado - 10:10
10/08, segunda – 21h
Teresa Cristina no Facebook @teresacristina
Teresa Cristina no Instagram @teresacristinaoficial
Teresa Cristina no YouTube youtube.com/teresacristinaoficial
O show “Teresa canta Noel - Batuque é um privilégio"nas plataformas de streaming de música, clique aqui
Outras entrevistas na série Arte na pandemia: 1 - Os artistas e a pandemia, com Pedro Granato, clique aqui
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4 - A arte visual na pandemia, com Pedro Neto, clique aqui
5 - A literatura contra a tristeza da pandemia, com Angela Damasceno, clique aqui